"Medeia, por Consuelo de Castro"

"É uma corrupção inclusive pobre e mesquinha. Jasão a trai como guerreira e como mulher.” Consuelo de Castro, 2004, em entrevista para a Folha de São Paulo.

Em relação às versões clássicas, o personagem de Jasão recebe mais presença e contorno na tradução de Consuelo de Castro (1946-2016) para ‘Memórias do mar aberto: Medeia conta sua história’ (1997). Alguns aspectos da sua personalidade, como seu caráter negocista e ganancioso, não só ficam mais evidentes, mas como são passíveis de identificação. O ator Flávio Rochaa, após interpretar Jasão em ‘Medeia por Consuelo de Castro’ (2021), passou a questionar se a história de amor entre o personagem e Medeia é legítima ou se foi apenas uma fantasia conveniente para os seus objetivos. Flávio Rochaa parece se aproximar da essência do herói decadente, aquele que não tem compromisso com nada, nem com as ideologias de um vilão. Suas ações são mesquinhas, como disse a autora, motivadas apenas por interesse próprio. É através da habilidade de Consuelo que a natureza corrupta de Jasão se revela naquilo que o torna mais frágil: como se manter fiel aos seus acordos e valores em um universo no qual estruturas de poder dominam qualquer manifestação de vida humana, onde a regra do “eu” prevalece sobre qualquer outro tipo de existência? ‘Medeia por Consuelo de Castro’ estreia em fevereiro de 2021 em sessões do Youtube e tem direção de Gabriel Fernandes e Bete Coelho. Imagens: stills de ‘Medeia por Consuelo de Castro’, 2021